segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Surdez

Eu faltei às duas primeiras semanas de aulas deste semestre, com isso perdi a escolha de grupos de uma cadeira. Então na primeira aula prática que assisti dessa cadeira, a professora criou um grupo de trabalho com os alunos no mesmo caso que eu, ou seja, mais 2.

Um dos rapazes eu já conhecia o outro não. Quando a professora ia começar a falar connosco sobre o trabalho, o rapaz que não conhecia faz sinais a professora dizendo que é surdo. Nenhum de nós estava a espera, a professora ainda ficou uns bons segundos parada a interiorizar aquilo. Lá perguntou se ele a percebia, ele disse que sim. Então, explicou o trabalho com calma.

Quando acabou de explicar, deixou-nos sozinhos para discutirmos o trabalho. Foi aqui a primeira vez que falei com alguém com um handicap a nível de comunicação, isso deixou-me entusiasmado e nervoso. Lendo os lábios, ele consegue perceber quase tudo o que lhe é dito, em caso de duvida, escrevia-se. Já eu, não sei nada de língua gestual e a minha habilidade a ler lábios não é muita mas conseguia, com maior ou menor dificuldade, perceber o que me dizia.

Ele disse-me que era novo na faculdade, veio para fazer o mestrado de multimédia e esta cadeira era a opção dele, ou seja, programação para ele deve ser quase zero. Disse-me que sozinho nunca iria conseguir fazer o trabalho, disse-lhe logo que não havia problema, ele está ali para aprender e nos para ajudar no que pudermos.

Tem assistido às aulas teóricas mas segundo ele, não consegue captar tudo o que o professora diz. A meu ver, isto é uma grande falha do ISEP, os professores dele deviam estar devidamente informados e preparados para dar-lhe o apoio que ele precisar, da mesma maneira que quando numa aula tem 1 ou 2 alunos de Erasmus a aula é dada em inglês, neste caso a aula podia ser dada de uma maneira um pouco mais lenta e, caso seja preciso, no fim falar com o aluno.

Expliquei-lhe melhor o trabalho pois ele disse-me que não percebeu muito bem, falei-lhe do modo de avaliação da disciplina e também discutimos um pouco os temas possíveis.
No meio disto tudo, ele agradeceu-me umas dez vezes, disse-lhe sempre que não havia motivo para agradecer.

No fim da aula, quando ia a sair da sala, a professora agradeceu-me por tê-lo ajudado e disse-me que não estava mesmo a contar, caso soubesse, teria logo ido falar com ele.

6 comentários:

regis-pereira.óleo/tela disse...

Ola!gostei do exemplo,PARABÉNS. hshshshsh

POC disse...

Keep up the good work.

Carolina disse...

se calhar era de sugerir que os professores lhe fornecessem um suporte escrito da aula, não? Pelo menos é o que acontece na minha faculdade.

Fábio Martins disse...

@Carolina
Todos os slides e suporte escrito da aula está disponível para os alunos no moodle.
O que eu achei grave é que o que o professor diz nas aulas, ajuda a compreensão da matéria. Daí eu achar que os professores deviam ser previamente avisados por parte da faculdade.

Herético disse...

Super cívico e humano da tua parte, gostei :)

Anónimo disse...

Não custa nada ajudar o próximo. Nunca me deparei com essa situação, mas no teu lugar faria o mesmo.
Nunca se sabe quando seremos nós a precisar..